Com diálogo aberto, mobilização em torno das mudanças climáticas e ciência espalhada por todos os espaços, as atividades na Casa da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), permanecem com a mesma proposta desde o primeiro dia: com luta por um mundo melhor. Na sexta-feira (14), a primeira semana foi finalizada com o debate sobre a Economia Azul e as Mudanças Climáticas.
Os palestrantes ressaltaram que apenas 27% do oceano global foi mapeado até hoje e que o monitoramento ainda é insuficiente para decisões seguras sobre pesca, mineração submarina e exploração de recursos. Foi defendido o cumprimento da meta 30×30, que prevê proteger 30% do oceano até 2030, como estratégia para garantir recursos marinhos no longo prazo. A discussão reuniu os representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo) Andrei Polejack; da University of Wollongong Michelle Voyer; da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Claire Jolly; da Oceanpact Flávio Andrade; e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Nabil Kadri.
Os participantes apresentaram iniciativas em andamento e apontaram entraves que ainda impedem o Brasil de avançar na gestão integrada de seus territórios costeiros — que concentram alta biodiversidade, atividades produtivas essenciais e vulnerabilidades climáticas crescentes.
A professora associada da UOW Michelle Yoyer destacou a dificuldade de integrar informações científicas aos processos de tomada de decisão. Segundo ela, ainda falta coordenação entre órgãos federais, estados e municípios, o que resulta em sobreposição de políticas e limita o alcance das ações. “Todo mundo trabalha, mas cada um trabalha de um lado. Sem integração de dados e de agendas, a política pública não chega na ponta”, afirmou.
A inovação tecnológica e a transformação digital foram apresentadas como essenciais para aumentar a produtividade, reduzir impactos ambientais e melhorar a gestão portuária e marítima. A mesa também discutiu a necessidade de ampliar financiamentos e mecanismos para projetos de monitoramento, restauração de manguezais, modelagem oceânica e tecnologias de baixo impacto.
A inclusão das comunidades locais e de pescadores familiares também foi apontada como prioridade. Os especialistas afirmaram que a economia azul deve ser participativa, garantindo que pequenas cooperativas e grupos indígenas tenham voz na definição de políticas e projetos, tornando a gestão dos oceanos mais justa e equitativa.
Além disso, os palestrantes enfatizaram a necessidade de acelerar a transição energética, reduzindo a extração de petróleo e gás para proteger o ecossistema marinho e promover o crescimento sustentável da economia azul.
No encerramento, Polejack reforçou que a economia azul deve ser tratada como política de Estado, articulando ciência, populações tradicionais, setor produtivo e governos. “O oceano é parte da solução climática. O Brasil tem potencial enorme, mas só avança se integrar conhecimento, dados e governança”, concluiu.
Casa da Ciência
A Casa da Ciência do MCTI, no Museu Paraense Emílio Goeldi, é um espaço de divulgação científica, com foco em soluções climáticas e sustentabilidade, além de ser um ponto de encontro de pesquisadores, gestores públicos, estudantes e sociedade. Até o dia 21, ela será a sede simbólica do ministério e terá exposições, rodas de conversa, oficinas, lançamentos e atividades interativas voltadas ao público geral. Veja a programação completa.